Questão 01 sobre o Romantismo no Brasil: Considerando os três comentários anteriormente estabelecidos, classifique cada um dos poemas românticos a seguir:
I. Oh! ter vinte anos sem gozar de leve
A ventura de uma alma de donzela!
Sem na vida ter sentido nunca
Na suave atração de um róseo corpo
Meus olhos turvos se fechar de gozo!
Oh! nos meus sonhos, pelas noites minhas
Passam tantas visões sobre meu peito!
Palor de febre meu semblante cobre,
Bate meu coração com tanto fogo!
Um doce nome os lábios meus suspiram.
Um nome de mulher… e vejo lânguida
No céu suave de amorosas sombras
Seminua, abatida, a mão no seio,
Perfumada visão romper a nuvem,
Sentar-se junto a mim, nas minhas pálpebras
O alento fresco e leve como a vida
Passar delicioso… Que delírios!
Acordo palpitante… inda a procuro;
Embalde a chamo, embalde as minhas lágrimas
Banham meus olhos, e suspiro e gemo…
Imploro uma ilusão… tudo é silêncio!
Só o leito deserto, a sala muda!
Amorosa visão, mulher dos sonhos,
Eu sou tão infeliz, eu sofro tanto!
Nunca virás iluminar meu peito
Com um raio de luz desses teus olhos? ( )
O anjo da guarda dissuade a donzela das tentações demoníacas do
pretendente. O Romantismo enaltece a virgindade – esse misterioso
e desejado requinte que exacerba as paixões!
II. “Leito de Folhas Verdes”
Por que tardas, Jatir, que tanto a custo
À voz do meu amor moves teus passos?
Da noite a viração, movendo as folhas,
Já nos cimos dos bosques rumoreja.
Eu sob a copa da mangueira altiva
Nosso leito gentil cobri zelosa
Com mimoso tapiz de folhas brandas
Onde o frouxo luar brinca entre flores.
Do tamarindo a flor abriu-se, há pouco,
Já solta o bogari mais doce aroma!
Como prece de amor, como estas preces,
No silêncio da noite o bosque exala.
Brilha a lua no céu, brilham estrelas,
Correm perfumes no correr da brisa,
A cujo influxo mágico respira-se
Um quebranto de amor, melhor que a vida!
A flor que desabrocha ao romper d’alva
Um só giro do sol, não mais, vegeta:
Eu sou aquela flor que espero ainda
Doce raio do sol que me dê vida.
Sejam vales ou montes, lago ou terra,
Onde quer que tu vás, ou dia ou noite,
Vai seguindo após ti meu pensamento;
Outro amor nunca tive: és meu, sou tua!
Meus olhos outros olhos nunca viram,
Não sentiram meus lábios outros lábios,
Nem outras mãos, Jatir, que não as tuas
A arasoia na cinta me apertaram.
Do tamarindo a flor jaz entreaberta,
Já solta o bogari mais doce aroma;
Também meu coração, como estas flores,
Melhor perfume ao pé da noite exala!
Não me escutas, Jatir! nem tardo acodes
À voz do meu amor, que em vão te chama!
Tupã! lá rompe o sol! do leito inútil
A brisa da manhã sacuda as folhas! ( )
III. “O ‘Adeus’ de Teresa”
A vez primeira que eu fitei Teresa,
Como as plantas que arrastam a correnteza,
A valsa nos levou nos gritos seus…
E amamos juntos… E depois na sala
“Adeus” eu disse-lhe a tremer co’a fala…
E ela, corando, murmurou-me: “adeus”.
Uma noite… entreabriu-se um reposteiro…
E da alcova saía um cavalheiro
Inda beijando uma mulher sem véus…
Era eu… Era a pálida Teresa!
E ela entre beijos murmurou-me: “adeus!”.
Passaram tempos… secúlos de delírio
Prazeres divinais… gozos do Empíreo…
…Mas um dia volvi aos lares meus.
Partindo eu disse – “Voltarei!… descansa!…”
Ela chorava mais que uma criança,
Ela em soluços murmurou-me: “adeus!”
Quando voltei… era o palácio em festa!…
E a voz d’Ela e de um homem lá na orquestra
Preenchiam de amor o azul dos céus.
Entrei!… Ela me olhou branca… surpresa!
Foi a última vez que eu vi Teresa!…
E ela arquejando murmurou-me: “adeus!” ( )
IV. Canto X – “I – Juca – Pirama”
Um velho Timbira, coberto de glória,
Guardou a memória
Do moço guerreiro, do velho Tupi!
E à noite, nas tabas, se alguém duvidava
Do que ele contava,
Dizia prudente: — “Meninos, eu vi!
Eu vi o brioso no largo terreiro
Cantar prisioneiro
Seu canto de morte, que nunca esqueci:
Valente, como era, chorou sem ter pejo;
Parece que o vejo,
Que o tenho nest’hora diante de mi.
Eu disse comigo: Que infâmia d’escravo!
Pois não, era um bravo;
Valente e brioso, como ele, não vi!
E à fé que vos digo: parece-me encanto
Que quem chorou tanto,
Tivesse a coragem que tinha o Tupi!”
Assim o Timbira, coberto de glória,
Guardava a memória
Do moço guerreiro, do velho Tupi.
E à noite nas tabas, se alguém duvidava
Do que ele contava,
Tornava prudente: “Meninos, eu vi!”. ( )
V. “Amemos – Dama Negra”
Ah! fora belo unidos em segredo,
Juntos, bem juntos… trêmulos de medo
De quem entra no céu;
Desmanchar teus cabelos delirante,
Beijar teu colo!… oh! vamos minha amante
Abra-me o seio teu.
Eu quero teu olhar, de áureos fulgores
Ver desmaiar na febre amores
Fitos… fitos em mim.
Eu quero ver teu peito intumescido
Ao sopro da volúpia arfar erguido…
O oceano de cetim… ( )
VI. São uns olhos verdes, verdes,
Uns olhos de verde-mar,
Quando o tempo vai bonança;
Uns olhos cor de esperança
Uns olhos por que morri;
Que, ai de mi!
Nem já sei qual fiquei sendo
Depois que os vi!
Como duas esmeraldas,
Iguais na forma e na cor,
Têm luz mais branda e mais forte.
Diz uma — vida, outra — morte;
Uma — loucura, outra – amor.
Mas, ai de mi!
Nem já sei qual fiquei sendo
Depois que os vi!
São verdes da cor do prado,
Exprimem qualquer paixão,
Tão facilmente se inflamam,
Tão meigamente derramam
Fogo e luz do coração;
Mas, ai de mi!
Nem já sei qual fiquei sendo
Depois que os vi! (…) ( )
VII. É ela! É ela! — murmurei tremendo,
E o eco ao longe murmurou — é ela!
Eu a vi… minha fada aérea e pura –
A minha lavadeira na janela!
Dessas águas-furtadas onde eu moro
Eu a vejo estendendo no telhado
Os vestidos de chita, as saias brancas;
Eu a vejo e suspiro enamorado!
Esta noite eu ousei mais atrevido
Nas telhas que estalavam nos meus passos
Ir espiar seu venturoso sono,
Vê-la mais bela de Morfeu nos braços!
Como dormia! Que profundo sono!…
Tinha na mão o ferro do engomado…
Como roncava maviosa e pura!…
Quase caí na rua desmaiado! (…) ( )