Questão 01 sobre Sintaxe: (FGV)
O Mundo das Não-palavras
Já o disseram muitos, e de várias maneiras, que os problemas do conhecer e do compreender centralizam-se em torno da relação entre a linguagem e a realidade, entre o símbolo e o fato.
Estas marcas de tinta sobre as quais correm nossos olhos, essas marcas de tinta que concordamos em chamar palavras, e estas palavras que concordamos em aceitar como “moeda legal” para a troca de informações, por que mágica, por que regras prosaicas, exercem elas suas estranhas funções? Se olharmos demoradamente para uma palavra, ela se converterá, de fato, para nós em meras marcas de tinta dentro de um padrão peculiar de linhas. A princípio, parece escrita corretamente, depois já não podemos ter certeza disso, e finalmente somos dominados pela impressão de que o simples cogitar de sua grafia é penetrar nos mais intrincados labirintos da Humanidade.
Está claro que, se olharmos reflexivamente para qualquer coisa por um espaço de tempo suficientemente longo, como um bezerro olha para uma porteira nova, ela tende a aparecer afinal como se fosse totalmente inexplicável. Um grande filósofo observou, ¤de uma feita, que a mais estranha invenção em toda a História era essa cobertura peculiar para o pé humano que nós denominamos meia. Ele estivera olhando para uma delas durante vários minutos. Há momentos, contudo, em que parece impossível que qualquer outra invenção humana pudesse ser mais surpreendente e estranha do que uma palavra – a palavra meia, por exemplo.
(Wendell Johnson, tradução de Octavio Mendes Cajado.)
No texto, encontra-se o fragmento “JÁ O DISSERAM MUITOS, e de várias maneiras, que os problemas do conhecer (…)”. Esse fragmento poderia ter sido apresentado sob a forma “JÁ DISSERAM, e de várias maneiras, que os problemas do conhecer (…)”. Nesse caso, seria correto concluir que:
O sujeito da oração passaria a ser obrigatoriamente eles.
a) A forma verbal DISSERAM, no plural, continuaria a indicar que o seu sujeito seria plural.
b) Não estaria determinado o agente da ação verbal: o sujeito estaria indeterminado.
c) A forma verbal DISSERAM estaria no plural porque PROBLEMAS está no plural.
d) Ocorreria um erro de concordância, pois o sujeito desse verbo, sendo uma oração, deveria tê-lo levado ao singular
Questões 02. (UERJ)
UM BOI VÊ OS HOMENS
Tão delicados (mais que um arbusto) e correm
e correm de um para outro lado, sempre esquecidos
de alguma coisa. Certamente, falta-lhes
não sei que atributo essencial, posto se apresentem nobres
e graves, por vezes. Ah, espantosamente graves,
até sinistros. Coitados, dir-se-ia que não escutam
nem o canto do ar nem os segredos do feno,
como também parecem não enxergar o que é visível
e comum a cada um de nós, no espaço. E ficam tristes
e no rasto da tristeza chegam à crueldade.
Toda a expressão deles mora nos olhos – e perde-se
a um simples baixar de cílios, a uma sombra.
Nada nos pêlos, nos extremos de inconcebível fragilidades,
e como neles há pouca montanha,
e que secura e que reentrâncias e que
impossibilidade de se organizarem em formas calmas,
permanentes e necessárias. Têm, talvez,
certa graça melancólica (um minuto) e com isto se fazem
perdoar a agitação incômoda e o translúcido
vazio interior que os torna tão pobres e carecidos
de emitir sons absurdos e agônicos: desejo, amor, ciúme
(que sabemos nós?), sons que se despedaçam e tombam no campo
como pedras aflitas e queimam a erva e a água,
e difícil, depois disto, é ruminarmos nossa verdade.
(ANDRADE, Carlos Drummond de. “Reunião.10 livros de poesia”. Rio de Janeiro: José Olympio, 1977.)
É comum encontrar nos livros escolares a definição de predicado como aquilo que se declara sobre o sujeito de uma oração. Essa definição de predicado, entretanto, não é suficiente para identificá-lo em todas as suas
ocorrências.
O exemplo em que NÃO se poderia identificar o predicado pela definição dada é:
a) “falta-lhes / não sei que atributo essencial,” (v. 3-4)
b) “Toda a expressão deles mora nos olhos” (v.11)
c) “neles há pouca montanha,” (v. 14)
d) “sons que se despedaçam” (v. 22)
Questões 03 sobre Sintaxe: (Pucsp)
POÇAS D’ ÁGUA
As poças d’água são um mundo mágico
Um céu quebrado no chão
Onde em vez de tristes estrelas
Brilham os letreiros de gás Néon.
(Mario Quintana, “Preparativos de viagem”, São Paulo, Globo, 1994.)
Refletindo-se sobre a relação entre os termos da oração, pode-se afirmar que:
a) o termo D’ÁGUA complementa sintaticamente o termo POÇAS.
b) o termo MUNDO MÁGICO complementa sintaticamente o termo AS POÇAS D’ÁGUA.
c) o termo EM VEZ DE TRISTES ESTRELAS complementa o termo BRILHAM.
d) não há complementos verbais nem nominais.
e) há simplesmente complementos nominais.
Questões 04.(Faap)
OLHOS DE RESSACA
Enfim, chegou a hora da encomendação e da partida. Sancha quis despedir-se do marido, e o desespero daquele lance consternou a todos. Muitos homens choravam também, as mulheres todas. Só Capitu, amparando a viúva, parecia vencer-se a si mesma. Consolava a outra, queria arrancá-la dali. A confusão era geral. No meio dela, Capitu olhou alguns instantes para o cadáver tão fixa, tão apaixonadamente fixa, que não admira lhe saltassem algumas lágrimas poucas e caladas…
As minhas cessaram logo. Fiquei a ver as dela; Capitu enxugou-as depressa, olhando a furto para a gente que estava na sala. Redobrou de carícias para a amiga, e quis levá-la; mas o cadáver parece que a retinha também. Momentos houve em que os olhos de Capitu fitaram o defunto, quais os da viúva, sem o pranto nem palavras desta, mas grandes e abertos, como a vaga do mar lá fora, como se quisesse tragar também o nadador da manhã.
(Machado de Assis)
Só um destes verbos é transitivo direto, ao lado do qual aparece o objeto direto:
a) chegou a hora da encomendação
b) a confusão era geral
c) lhe saltassem algumas lágrimas
d) Capitu enxugou-as
e) as minhas cessaram logo