Pontuação Português: (UFC–2009) Instrução: Leia o texto a seguir para responder às questões 01 e 02.
Primeiro Ato
Amelinha – (Virando-se para a mãe) Edmundo está inocente. Sem culpa.
Valdelice – (Fazendo-a calar) Não repita essa asneira. (Pausa) Temos de pressioná-lo, minha filha.1 Você não tem idade para perceber a ruindade dos homens. Você foi se-du-zi-da.
Amelinha – (Sentando-se) Seduzida?! Mas eu sei que não é verdade!
Valdelice – A história tem de ser diferente… Trate de se convencer disso.
[…]
Amelinha – Não me sinto bem em dizer o que não fiz…
Agente – Aprenda a primeira lição: às vezes a verdade não é a que se conhece, mas a outra… (Pausa) É ir por mim. (Notando o laço de fita da moça) Pra que este laço?
Amelinha – Foi idéia da mamãe.
Valdelice – Não a quero desgraciosa diante daautoridade.
Agente – (Compenetrado) Nada de lacinho de fita! Você não é anjo de procissão. (Tom) Quem perde a honra não se interessa por enfeite. (Ríspido) Tire-o.
Amelinha – (Indecisa) Mas eu… eu…
Agente – (Arrebata-lhe o laço) Bobagem! (Pausa). Retire também o ruge, o batom…2 Tenho de prepará-la para impressionar o delegado, o juiz, todo mundo.3 Do contrário, ninguém defenderá você. (Tom) Assanhe os cabelos.
Segundo Ato
Benedito – (À Amelinha, que continua assustada, mas impressionada com a situação que vive)4. Então, você acabou sendo enganada? (Ela aquiesce) Levou-a no caminhão da entrega sistemática, não foi? (Ela confirma) Vá ver que era um caminhão Ford. (Ao Permanente) Ford! A influência nefasta do capitalismo internacional! (Pausa) E os botijões? Balançavam? Sacudiam? (Pausa) Estavam cheios… ou vazios?
Amelinha – (Num sopro) Vazios…
Benedito – (Eufórico) Vazio! (Pausa, em explosão) Vibravam, não? (Dramatizando) Imagino como não eram ruidosos! Tática de cinema americano, “noir”, de péssima qualidade. (Pausa) E o carro? Corria veloz? E você, gritava?
Amelinha – (Voz débil, a confirmar) Gritava.
[…]
Benedito – (À Amelinha) Então estavam vazios os botijões (Ela concorda) Vazios… E o carro corria, em disparada, não? (Ela aquiesce) E fazia aquele ruído…
Amelinha – (Que vai aderindo, qual participasse de um jogo…) Um ruído terrível…
Benedito – Ah, eu imagino! E o seu desespero? Hem, moça?5
Amelinha – Ah, como eu sofri dentro do caminhão…
Valdelice – (Surpresa, à filha) Você nunca me falou antes em caminhão. Que carro é esse?
Amelinha – (Indiferente) O caminhão, mãe… Caminhão Ford.
[…]
Benedito – E depois? Hem? Depois?
Amelinha – (Enlevada, mais fantasiosa) Ele me apertava em seus braços fortes, sem mais querer me soltar. (Tom) Meu Deus, era bom mas eu sofria. (Pausa) Eu me sentia tonta, desfalecida, principalmente pelo som infernal dos botijões… E por cima de tudo, eu tinha medo de morrer.
Benedito – (Animando-a) Mais, mais, vai para a primeira página.
Amelinha – Paramos num lugar distante, como se diz mesmo? … ermo… (Pausa) Onde era? Onde? Ainda hoje me pergunto, sem resposta… (Pausa) Nem sei direito. Mas sei que havia uma árvore muito frondosa, e tinha um rio largo, perto… e… acho que havia também uma cabana.6 Um velho pescador estava sentado, longe, longe, numa pedra…
Valdelice – Minha filha, você está descrevendo o calendário da sala de jantar!
[…]
Benedito – E depois, e depois?7
Amelinha – Ele começou a puxar o zíper do meu vestido.
Valdelice – Mas você não tem vestido de zíper!!!
Benedito – Vá contando, me agrada! É matéria de primeira página.
Amelinha – Por fim, rasgou minha combinação de “nylon”.
Valdelice – “Nylon”?! Você nunca usou isso!
[…]
Valdelice – (Como se tudo fosse um sonho) Agora que você está mais calma, me diga mesmo como é a história do caminhão, dos botijões vazios… Onde você conseguiu tudo isso?
Amelinha – E eu sei, mamãe?! Simpatizei com o moço, e dei de imaginar tudo.8 (Pausa) Será que o meu retrato vai sair bonito no jornal?
[…]
Edmundo – (Principia a falar com indecisão, procurando achar as palavras) Amelinha, eu… queria que você compreendesse… Por favor, conte ao Delegado o que em verdade se passou entre nós dois… Sei que você é direita…9 (Pausa) Fale.
Amelinha – (Em tom indefinido, como se na verdade vivesse outro personagem) Será que você já esqueceu?
Edmundo – Esqueceu o quê? Não compreendo.
Amelinha – Oh, Edmundo… Vocês, homens, esquecem tão ligeiro!
Edmundo – Mas não esqueci nada! Lembro que você me chamou à sua casa. E me abraçava, me queria… E eu então não pude resistir.
[…]
Amelinha – Oh, ao menos hoje, não seja cínico! O caminhão, os botijões vazios! Vamos, não diga que não se lembra! Você me carregou, eu não queria… Me convidou para ver os enfeites da boléia, e, de repente, acionou o motor, partiu veloz. Ah. Foi quando eu gritei, gritei: Não faça isso. Edmundo! Pare! Pare! E você correndo, nem me deu atenção!
Edmundo – (Ao Delegado) Isso não! Ao menos a verdade!
CAMPOS, Eduardo. A donzela desprezada. Três peças escolhidas. Fortaleza: Edições UFC, 2007, p. 187-221.
Questão 01 sobre Pontuação Português: Entre algumas funções, a vírgula é empregada para separar
(1) vocativo;
(2) repetições;
(3) termos coordenados;
(4) oração adjetiva de valor explicativo;
(5) orações coordenadas aditivas proferidas com pausa.
Observe, nas passagens do texto transcritas a seguir, o emprego das vírgulas, identifique a razão pela qual foram utilizadas e, em seguida, de acordo com o código apresentado, preencha os parênteses, estabelecendo a correlação adequada entre o uso e a regra.
( ) “E depois, e depois?” (ref.7).
( ) “E o seu desespero? Hem, moça?” (ref.5).
( ) “Temos de pressioná-lo, minha filha” (ref.1).
( ) “Simpatizei com o moço, e dei de imaginar tudo” (ref.8).
( ) “Tenho de prepará-la para impressionar o delegado, o juiz, todo mundo” (ref.3).
( ) “(À Amelinha, que continua assustada, mas impressionada com a situação que vive.)” (ref.4).
Questão 02. Entre algumas funções, as reticências são empregadas para denotar:
(1) hesitação;
(2) enumeração incompleta.
Observe, nas passagens do texto transcritas a seguir, o emprego das reticências, identifique a razão pela qual foram utilizadas e, em seguida, de acordo com o código apresentado, preencha os parênteses, estabelecendo a correlação adequada entre o uso na passagem e o valor denotado.
( ) “Retire também o ruge, o batom…” (ref.2).
( ) “Mas sei que havia uma árvore muito frondosa, e tinha um rio largo, perto… e… acho que havia também uma cabana” (ref.6).