Descrição: (UFOP-MG–2009) Instrução: Leia atentamente o texto que se segue. As questões de 01 a 07 referem-se a ele.
A eutanásia no direito brasileiro O dramático e comovente desfecho da agonia e morte da norte-americana Terri Schiavo, recentemente – depois de 15 anos em estado vegetativo persistente –, reabriu as discussões planetárias sobre o polêmico tema da eutanásia. O caso conquistou repercussão sem 1 paralelos, colocando, de um lado, os que apoiavam a decisão do marido de colocar um ponto final ao drama da esposa e, do outro, os que acreditavam, como a família de Terri, na chance de uma remota recuperação. […] Muito praticada na antiguidade, por povos primitivos, a eutanásia até hoje encontra seus simpatizantes que, frequentemente, têm coragem de praticá-la, mas, muito raramente, de defendê-la publicamente ou apontar 2 seus benefícios de forma a convencer a opinião pública, como aconteceu no caso Schiavo. A palavra eutanásia deriva de eu, que significa bem, e thanatos, que é morte, significando boa morte, morte doce, morte sem dor nem sofrimento. As modalidades da eutanásia são três: a libertadora, a piedosa e a morte econômica ou eugênica. Na forma libertadora, o enfermo incurável pede que se lhe abrevie a dolorosa agonia, com uma morte calma, indolor. Já na forma piedosa, o moribundo encontra-se inconsciente e, tratando-se de caso terminal que provoca 3 sofrimento agudo, […] seu médico ou seu familiar, movido por piedade, o liberta, provocando a antecipação de sua hora fatal. Quanto à forma eugênica, trata-se da eliminação daqueles seres apsíquicos e associais absolutos, disgenéticos, monstros de nascimento, idiotas graves, loucos incuráveis e outros. Essa modalidade está presente na lembrança histórica das atrocidades dos nazistas, contra judeus e outras minorias, em prol da apuração da raça ariana. A eutanásia no Brasil é crime, trata-se de homicídio doloso que, em face da motivação do agente, poderia ser alçado à condição de privilegiado, apenas com a redução da pena. Laborou com acerto o legislador penal brasileiro, não facultando a possibilidade da eutanásia.
4 Ocorre, todavia, que na prática a situação é bem diferente, pois envolve, além do aspecto legal, o aspecto médico, sociológico, religioso, antropológico, entre outros. Por esses problemas é que a eutanásia, embora sendo crime, é praticada impunemente no Brasil. Relatos de pessoas que aplicaram a eutanásia em parentes somam-se a relatos de médicos que a praticaram, sempre todos imbuídos do espírito da “piedade”.
5 Ora, não sejamos hipócritas, pois o que realmente leva à prática da eutanásia não é a piedade ou a compaixão, mas sim o propósito mórbido e egoístico de poupar-se ao pungente drama da dor alheia. Somente os indivíduos sujeitos a estados de extrema angústia são capazes do golpe fatal eutanásico, pois o alívio que se busca não é o do enfermo, mas sim o próprio; que ficará livre do “fardo” que se encontra obrigado a “carregar”. Isto se aplica aos familiares, amigos, médicos, advogados, sociólogos, enfim, a todos aqueles que já pensaram ou defenderam a prática desse crime hediondo, 6 que iguala o homem moderno a seus antepassados bárbaros e primitivos. A falsidade no enfoque desse assunto salta aos olhos, quando nos deparamos a casos concretos envolvendo interesses mundanos, quer de natureza conjugal ou de sucessão patrimonial. […] A vida é nosso bem maior, dádiva de Deus. Não pode ser suprimida por decisão de um médico ou de 7 um familiar, qualquer que seja a circunstância, pois o que é incurável hoje amanhã poderá não sê-lo e uma anomalia irreversível poderá ser reversível na próxima semana. Afinal, se a sociedade brasileira não aceita a pena de morte, é óbvio que esta mesma sociedade não aceita que se disponha da vida de um inocente, para poupar o sofrimento ou as despesas de seus parentes. Enquanto for crime a eutanásia, sua prática deve ser punida exemplarmente. D’URSO, Luiz Flávio Borges. Advogado criminalista, mestre e doutor pela USP, presidente da OAB–SP. Disponível em: <http://www.oabsp.org.br>. Acesso em: 21 fev. 2009 (Adaptação).
Questão 01 sobre Descrição: Em relação ao título do texto, é CORRETO afirmar:
A) Orienta a leitura do texto, uma vez que delimita o assunto, trazendo apenas o que será abordado pelo autor.
B) Resume a principal linha de abordagem do texto, direcionando para uma leitura mais atenta do quarto parágrafo.
C) Mostra-se restrito em relação ao que é tratado, já que a discussão apresentada vai além do caráter jurídico da eutanásia.
D) Limita a discussão à esfera nacional, uma vez que vincula os exemplos de outros países à legislação brasileira.
Questão 02 sobre Descrição: Assinale a alternativa que traduz o estatuto da eutanásia no direito brasileiro, segundo o autor.
A) A eutanásia é uma prática dolosa na sociedade brasileira, e seus praticantes são exemplarmente punidos.
B) Apenas a eutanásia piedosa tem um aparato legal em nossa sociedade, porque sua prática pode aliviar o sofrimento de um incapaz.
C) Nas sociedades primitivas, a eutanásia era uma prática legal, podendo vir a sê-lo na sociedade contemporânea.
D) Na sociedade brasileira, dependendo da motivação do praticante da eutanásia, a pena pode ser reduzida.
Questão 03 sobre Descrição: A partir da compreensão global do texto, assinale a alternativa CORRETA.
A) Os povos antigos são considerados pelo autor como bárbaros e primitivos por praticarem a eutanásia.
B) Os sociólogos e advogados que defendem a eutanásia, para o autor, não são movidos por propósitos mórbidos e egoísticos.
C) Os familiares que se posicionam favoravelmente à eutanásia o fazem unicamente por interesses mundanos.
D) Os simpatizantes da eutanásia nem sempre tentam convencer a opinião pública sobre seus benefícios.
Questão 04 sobre Descrição: Marque a opção em que o recurso argumentativo empregado por Luiz Flávio Borges D’Urso NÃO está corretamente ilustrado.
A) “O dramático e comovente desfecho da agonia e morte da norte-americana Terri Schiavo […] reabriu as discussões planetárias sobre o polêmico tema da eutanásia.” (1o parágrafo) (ARGUMENTAÇÃO BASEADA NO EXEMPLO)
B) “Somente os indivíduos sujeitos a estados de extrema angústia são capazes do golpe fatal eutanásico, pois o alívio que se busca não é o do enfermo, mas sim o próprio.” (5o parágrafo) (ARGUMENTAÇÃO BASEADA EM PROVA CONCRETA)
C) “A vida é nosso bem maior, dádiva de Deus. Não pode ser suprimida por decisão de um médico ou de um familiar […]” (7o parágrafo) (ARGUMENTAÇÃO BASEADA NO CONSENSO)
D) “Afinal, se a sociedade brasileira não aceita a pena de morte, é óbvio que esta mesma sociedade não aceita que se disponha da vida de um inocente […]” (7o parágrafo) (ARGUMENTAÇÃO BASEADA NO RACIOCÍNIO LÓGICO)
Questão 05 sobre Descrição: Entre as alternativas seguintes, assinale aquela em que a palavra ou expressão destacada NÃO traduz uma avaliação do autor em relação ao tema tratado.
A) “Laborou com acerto o legislador penal brasileiro, não facultando a possibilidade da eutanásia.” (4o parágrafo)
B) “Odramático e comovente desfecho da agonia e morte da norte-americana Terri Schiavo, recentemente – depois de 15 anos em estado vegetativo persistente –, reabriu as discussões planetárias sobre o polêmico tema da eutanásia.” (1o parágrafo)
C) “Somente os indivíduos sujeitos a estados de extrema angústia são capazes do golpe fatal eutanásico […].” (5o parágrafo)
D) “Ora, não sejamos hipócritas, pois o que realmente leva à prática da eutanásia não é a piedade ou a compaixão, mas sim o propósito mórbido e egoístico de poupar-se ao pungente drama da dor alheia.” (5o parágrafo)
Questão 06 sobre Descrição: Releia o fragmento transcrito a seguir. “O caso conquistou repercussão sem paralelos, colocando, de um lado, os que apoiavam a decisão do marido de colocar um ponto final ao drama da esposa e, do outro, os que acreditavam, como a família de Terri, na chance de uma remota recuperação.” (1o parágrafo)
Sobre essa passagem, é CORRETO afirmar: A) A expressão “sem paralelos” pode ser substituída, no contexto, pela palavra “infindável”.
B) O emprego do adjetivo “remota” para caracterizar a recuperação de Terri já indica que tal recuperação é um fato impossível.
C) O marido de Terri não é considerado um dos membros da família dela, embora não haja referência a esses membros.
D) O uso da expressão “o caso” fere a coesão do texto, já que se emprega uma expressão de sentido vago para algo ainda não tratado.
Questão 07 sobre Descrição: Nos trechos apresentados, a palavra em destaque introduz uma ideia que foi explicitada ao final da alternativa.
Assinale a opção em que a ideia dada está INCORRETA em relação ao que a palavra apresenta no texto. A) “Já na forma piedosa, o moribundo encontra-se inconsciente e, tratando-se de caso terminal que provoca sofrimento agudo, […] seu médico ou seu familiar, movido por piedade, o liberta, provocando a antecipação de sua hora fatal.” (3o parágrafo) (OPOSIÇÃO)
B) “Ora, não sejamos hipócritas, pois o que realmente leva à prática da eutanásia não é a piedade ou a compaixão, mas sim o propósito mórbido e egoístico de poupar-se ao pungente drama da dor alheia.” (5o parágrafo) (ALTERNÂNCIA)
C) “Isto se aplica aos familiares, amigos, médicos, advogados, sociólogos, enfim, a todos aqueles que já pensaram ou defenderam a prática desse crime hediondo, que iguala o homem moderno a seus antepassados bárbaros e primitivos.” (6o parágrafo) (RESUMO)
D) “Afinal, se a sociedade brasileira não aceita a pena de morte, é óbvio que esta mesma sociedade não aceita que se disponha da vida de um inocente, para poupar o sofrimento ou as despesas de seus parentes.” (7o parágrafo) (ARGUMENTO CONCLUSIVO)
Questão 08 sobre Descrição: (Enem-2010) Prima Julieta Prima Julieta irradiava um fascínio singular. Era a feminilidade em pessoa. Quando a conheci, sendo ainda garoto e já sensibilíssimo ao charme feminino, teria ela uns trinta ou trinta e dois anos de idade. Apenas pelo seu andar percebia-se que era uma deusa, diz Virgílio de outra mulher. Prima Julieta caminhava em ritmo lento, agitando a cabeça para trás, remando os belos braços brancos. A cabeleira loura incluía reflexos metálicos. Ancas poderosas. Os olhos de um verde azulado borboleteavam. A voz rouca e ácida, em dois planos: voz de pessoa da alta sociedade. MENDES, M. A idade do serrote. Rio de Janeiro: Sabiá, 1968.
Entre os elementos constitutivos dos gêneros, está o modo como se organiza a própria composição textual, tendo-se em vista o objetivo de seu autor: narrar, descrever, argumentar, explicar, instruir. No trecho, reconhece-se uma sequência textual: A) explicativa, em que se expõem informações objetivas referentes à prima Julieta.
B) instrucional, em que se ensina o comportamento feminino, inspirado em prima Julieta.
C) narrativa, em que se contam fatos que, no decorrer do tempo, envolvem prima Julieta.
D) descritiva, em que se constrói a imagem de prima Julieta a partir do que os sentidos do enunciador captam.
E) argumentativa, em que se defende a opinião do enunciador sobre prima Julieta, buscando-se a adesão do leitor a essas ideias.
Instrução: Para responder às questões 09 e 10 sobre Descrição, baseie-se no fragmento de texto a seguir.
De quando em quando [os meninos] se mexiam, porque o lume era fraco e apenas aquecia pedaços deles. Outros pedaços esfriavam recebendo o ar que entrava pelas rachaduras das paredes e pelas gretas da janela. Por isso não podiam dormir. Quando iam pegando no sono, arrepiavam-se, tinham precisão de virar-se, chegavam-se à trempe e ouviam a conversa dos pais [Fabiano e sinha Vitória]. Não era propriamente conversa: eram frases soltas, espaçadas, com repetições e incongruências. Às vezes uma interjeição gutural dava energia ao discurso ambíguo. Na verdade nenhum deles prestava atenção às palavras do outro: iam exibindo as imagens que lhes vinham ao espírito, e as imagens sucediamse, deformavam-se, não havia meio de dominá-las. Como os recursos de expressão eram minguados, tentavam remediar a deficiência falando alto. RAMOS, Graciliano. Vidas secas. Rio de Janeiro: Record, 2008. p. 63-64.
Questão 09 sobre Descrição: Admitindo-se que se pode dividir esse fragmento textual em dois momentos, é CORRETO afirmar que, no segundo, o narrador se detém em informar o leitor sobre a:
A) incapacidade que os pais tinham de prestar atenção às palavras dos filhos. B) curiosidade que os meninos tinham de saber sobre qual assunto os pais conversavam durante toda a noite. C) impossibilidade que os meninos tinham de pegar no sono, pois Fabiano e sinha Vitória falavam muito alto. D) dificuldade que Fabiano e sinha Vitória tinham para lidar com a linguagem.
Questão 10 sobre Descrição: Os colchetes são empregados:
A) pelo narrador do romance, em vez de vírgulas, para assegurar que o leitor entenda, com facilidade, as informações que lhe são transmitidas.
B) pelo autor da transcrição, para intercalar, com suas próprias palavras, informação que torna o fragmento mais compreensível para o leitor.
C) pelo autor da obra, em vez de travessões, para deixar suficientemente claro quem é o agente da ação de mexer-se e o da ação de ouvir.
D) pelo digitador da editora, para reintroduzir informação que o revisor, provavelmente buscando a concisão, excluiu da versão original.
Questão 11 sobre Descrição: (UERJ–2008) Uma mulher chamada guitarra Um dia, casualmente, eu disse a um amigo que a guitarra, ou violão, era “a música em forma de mulher”. A frase o encantou e ele a andou espalhando como se 1 ela constituísse o que os franceses chamam um mot d’esprit1. Pesa-me ponderar que ela não quer ser nada disso; é, melhor, a pura verdade dos fatos. O violão é não só a música (com todas as suas possibilidades orquestrais latentes) em forma de mulher, como, de todos os instrumentos musicais que se inspiram na forma feminina – viola, violino, bandolim, violoncelo, contrabaixo –, o único que representa a mulher ideal: 2 nem grande, nem pequena; de pescoço alongado, ombros redondos e suaves, cintura fina e ancas plenas; a cultivada, mas sem jactância2; relutante em exibir-se, a não ser pela mão daquele a quem ama; atenta e obediente ao seu amado, mas sem perda de caráter e dignidade; e, na intimidade, terna, sábia e apaixonada. Há mulheres-violino, mulheres-violoncelo e até mulheres contrabaixo. […] Divino, delicioso instrumento que se casa tão bem 3 com o amor e tudo o que, nos instantes mais belos da natureza, induz ao maravilhoso abandono! E não é à toa que um dos seus mais antigos ascendentes se chama viola d’amore3, como a prenunciar o doce fenômeno de tantos corações diariamente feridos pelo melodioso acento de suas cordas… Até na maneira de ser tocado – contra o peito – lembra a mulher que 4 se aninha nos braços do seu amado e, sem dizer-lhe nada, parece suplicar com beijos e carinhos que ele a tome toda, faça-a vibrar no mais fundo de si mesma, e a ame acima de tudo, pois do contrário ela não poderá ser nunca totalmente sua. Ponha-se num céu alto uma Lua tranqüila. Pede ela um contrabaixo? Nunca! Um violoncelo? Talvez, mas só se por trás dele houvesse um Casals4. Um bandolim? Nem por sombra! Um bandolim, com seus tremolos5, 5 lhe perturbaria o luminoso êxtase. E o que pede então (direis) uma Lua tranqüila num céu alto? E eu vos responderei: um violão. Pois dentre os instrumentos musicais criados pela mão do homem, só o violão é capaz de ouvir e de entender a Lua. MORAES, Vinicius de. Para viver um grande amor. Rio de Janeiro: José Olympio, 1984.
Vocabulário: 1mot d’esprit – dito espirituoso 2jactância – arrogância, orgulho, vaidade 3viola d’amore – viola de amor, antigo instrumento musical 4Casals – Pablo Casals, famoso violoncelista do século passado 5tremolos – repetições rápidas de uma ou duas notas musicais
No texto, fragmentos narrativos associam-se a sequências descritivas, originárias de um processo subjetivo de observação. A alternativa que apresenta uma dessas sequências descritivas é: A) “atenta e obediente ao seu amado, mas sem perda de caráter e dignidade;” (2º parágrafo) B) “E não é à toa que um dos seus mais antigos ascendentes se chama viola d’amore,” (4º parágrafo) C) “Ponha-se num céu alto uma Lua tranqüila. Pede ela um contrabaixo?” (5º parágrafo) D) “só o violão é capaz de ouvir e de entender a Lua.” (5º parágrafo)
Doutorando em Genética e Biologia Molecular – UESC-BA
Mestre em Genética e Biologia Molecular – UESC-BA
Pós-Graduado em Metodologia do Ensino de Biologia e Química – FAEL
Licenciado em Ciências Biologias – IFMT/Campus Juína