Lista de Exercícios sobre Narração: (UFV-MG–2010) Instruções: Leia os textos I e II a seguir e responda às questões de 01 a 04.
Texto I
[…] Mais ainda, o homem que tem uma deficiência visível lembra com força a precariedade da condição humana, desperta a fantasia da fragmentação do corpo que habita muitos pesadelos (Le Breton, 1990).
A alteração do corpo remete, no imaginário ocidental, a uma alteração moral do homem e, inversamente, a alteração moral do homem acarreta a fantasia de que seu corpo não é apropriado e que convém endireitá-lo. Essa passagem a um outro tipo de humanidade autoriza a constância do julgamento ou do olhar depreciativo sobre ele, e até a violência contra ele. Só ao homem comum se reserva o privilégio aristocrático de passear por uma rua sem suscitar a menor indiscrição. Se o homem só existe por meio das formas corporais que o colocam no mundo, qualquer modificação de sua forma determina uma outra definição de sua humanidade. Os limites do corpo esboçam, em sua escala, a ordem moral e significante do mundo (Le Breton, 1990, 1992). E nossas sociedades contemporâneas cultivam uma norma das aparências e uma preocupação rígida de saúde. […]
LE BRETON, D. Adeus ao corpo. Antropologia e sociedade. Campinas: Papirus, 2003. p. 87.
Texto II
Meu nome é Simone. Quando eu nasci, em 1976, meu esôfago não tinha ligação com meu estômago. Por isso, eu tive de ser operada quando tinha apenas 2 horas de vida. Antes dessa data, não havia operação para corrigir esse pequeno defeito. Então, no ano do meu nascimento, foi a primeira vez que os bebês que nasceram com essa anomalia tiveram a chance de continuar vivos. Pra mim, isso é maravilhoso. Eu fico superfeliz de mostrar, através desta campanha, que pessoas com marcas também podem ser atraentes. Com carinho, Simone.
DOVE. Campanha pela real beleza: Toda mulher é bonita quando sua pele está bem nutrida. Novas loções Dove com soro nutritivo 24h. Revista Contigo, s / d (Adaptação).
Questão 01 sobre Narração: No texto I, NÃO é uma ideia nuclear do autor reiterar que:
A) os julgamentos acerca do corpo e até um olhar depreciativo sobre ele vigoram hoje, com bastante constância.
B) a sociedade contemporânea deve aceitar as alterações morais do homem, em função de um ideal de privilégio aristocrático.
C) a intolerância em relação à deficiência visível é naturalizada nos discursos da sociedade em função do ideal do corpo perfeito.
D) o homem é julgado hoje antes pela construção esteticamente apropriada do corpo do que pela sua moral e dignidade.
Questão 02 sobre Narração: Entre as razões para Simone, a autora do depoimento apresentado, ser uma metonímia de “real beleza”, está:
A) nascer com um pequeno defeito que a impede de ter uma vida normal.
B) sofrer uma operação quando recém-nascida para corrigir uma anomalia.
C) carregar uma marca no corpo que pode ser agradável aos olhos da sociedade.
D) mostrar-se satisfeita com a cultura do corpo perfeito enraizada nos indivíduos.
Questão 03 sobre Narração: Leia as afirmativas a seguir sobre as características próprias dos gêneros dos textos I e II. Assinale V para a(s) VERDADEIRA(S) e F para a(s) FALSA(S).
( )O depoimento tem como propósito apresentar a opinião de uma pessoa acerca de um determinado tema.
( )Uma característica linguística comum no texto acadêmico são as marcas de modalização.
( )No texto acadêmico, as vozes de outros especialistas estão subfocalizadas e contribuem para dar legitimidade a um argumento.
( )O uso de sequências narrativas é uma característica recorrente em depoimentos.
( )É vedada a possibilidade, em qualquer depoimento, de se utilizar formas próprias da oralidade.
A sequência CORRETA é:
A) V V V F F.
B) V V F V F.
C) F V V F V.
D) V F V F V.
Questão 04 sobre Narração: Comparando-se os textos I e II, é INCORRETO afirmar:
A) A relação do indivíduo com seu corpo ocorre sob a égide do domínio de si. O homem contemporâneo é convidado a construir o corpo, modelar sua aparência, ocultar o envelhecimento ou a fragilidade.
B) O corpo é hoje um motivo de apresentação de si em que é avaliada a qualidade de sua presença e no qual ele mesmo ostenta a imagem que pretende dar aos outros.
C) Nossas sociedades rejeitam o corpo como emblema de si. É melhor construí-lo sob medida para manter o sentimento da melhor aparência.
D) O discurso de nossas sociedades contemporâneas afirma, em suma, que o indivíduo é julgado e classificado por seu corpo.
Instruções: Leia os textos III e IV que se seguem e responda às questões 05 e 06.
Texto III
Uma forte tendência do mundo contemporâneo é considerar toda forma viva como uma soma organizada de mensagens. A informação iguala os níveis de existência, esvazia as coisas de sua substância própria, de seu valor e de seu sentido a fim de torná-las comparáveis. Impõe à infinita complexidade do mundo um modelo único de comparação que permite colocar realidades diferentes no mesmo plano. H. Atlan expressa isso muito bem: “O que a Biologia nos ensina sobre o corpo faz desaparecer aquilo que, por outro caminho, a sociedade, a história, a cultura nos ensinaram sobre a pessoa. De um ponto de vista biológico, a pessoa não existe. A pessoa é uma realidade social, e a sociedade, um dos elementos mais importantes de nossa vida. Já a Biologia diz apenas: o corpo é um mecanismo, impessoal, que é, afinal, o resultado de interações entre moléculas.”
(Atlan 1994, p. 56) […] LE BRETON, D. Adeus ao corpo. Antropologia e sociedade. Campinas: Papirus, 2003. p. 101-102.
Texto IV
[…] A desinformação sobre o funcionamento do próprio corpo, por mais estranho que pareça, começa na escola. O corpo humano é apresentado aos alunos por meio de explicações excessivamente teóricas e, não raro, superficiais. Tome-se como exemplo o que um estudante de 10 anos aprende nos livros didáticos sobre o coração: “O coração é um órgão oco. Dentro dele existem quatro cavidades, duas em cima e duas embaixo. É nessas cavidades que o sangue entra e sai quando é bombeado. As cavidades superiores são chamadas de átrios e as inferiores, de ventrículos…”. Está correto, mas também é… desprovido de coração, por assim dizer1. “A informação se torna interessante sobretudo se for relacionada a um contexto”, afirma a bióloga Regina Pekelmann Markus, do Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo. No caso do ensino do corpo humano, isso signifca associar seus mecanismos à saúde, às doenças, a hábitos de vida. É de criança que se aprende a ficar velho.
LOPES, A. D.; MAGALHÃES, N. Você está no comando. Veja, São Paulo, ano 42, n. 46, p. 134, 18 nov. 2009.
Questão 05 sobre Narração: “Está correto, mas também é… desprovido de coração, por assim dizer.” (texto IV, ref. 1) Considerando a passagem anterior e os textos III e IV, analise as afirmativas a seguir:
I. “O corpo humano é apresentado aos alunos por meio de explicações excessivamente teóricas e, não raro, superficiais.” (texto IV)
II. “A informação iguala os níveis de existência, esvazia as coisas de sua substância própria, de seu valor e de seu sentido a fim de torná-las comparáveis.” (texto III)
III. “‘O que a Biologia nos ensina sobre o corpo faz desaparecer aquilo que, por outro caminho, a sociedade, a história, a cultura nos ensinaram sobre a pessoa.’” (texto III)
IV. “‘[…] o corpo é um mecanismo, impessoal, que é, afinal, o resultado de interações entre moléculas.’” (texto III)
Entre as afirmativas, aquelas que endossam a passagem (ref. 1) do texto IV são:
A) I, III e IV, apenas.
B) I e III, apenas.
C) II e IV, apenas.
D) I, II, III e IV.
A) Em“‘Já a Biologia diz apenas: o corpo é um mecanismo, impessoal, que é, afinal, o resultado de interações entre moléculas.’” (texto III), a tese aí defendida retifica o posicionamento de Breton sobre as percepções em relação ao mundo contemporâneo.
B) Em “A informação iguala os níveis de existência, esvazia as coisas de sua substância própria, de seu valor e de seu sentido a fim de torná-las comparáveis.” (texto IV), o termo em destaque refere-se a “as coisas”.
C) Em “H. Atlan expressa isso muito bem […]” (texto III), o termo “isso” refere-se à forma racional e impessoal como a Biologia compreende o corpo.
D) Em “A desinformação sobre o funcionamento do próprio corpo, por mais estranho que pareça, começa na escola.” (texto IV), o termo “sobre” introduz o assunto, e a forma verbal “começa” exprime um processo em seu início.